MAQUETE DO ESTALEIRO DO AÇU

MAQUETE DO ESTALEIRO DO AÇU
Foto Fernando

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Com obras do Açu, São João da Barra deve receber R$ 70 bi e população pode crescer 7 vezes.

            Aos poucos eles estão chegando. Ao fim de 15 anos serão 250 mil, mais de sete vezes o atual número de habitantes (32.747). Ou seja, a pacata São João da Barra, localizada no Norte Fluminense e que hoje não enche sequer o estádio do Engenhão, terá uma população suficiente para lotar três Maracanãs em 2025. A razão para tamanho salto são as perspectivas de investimento no município a partir da construção do Porto do Açu, empreendimento da LLX, o braço logístico do grupo de Eike Batista. Em pouco mais de dez anos, a cidade deverá receber uma injeção de quase R$ 70 bilhões - R$ 3,4 bilhões do porto e outros R$ 64 bilhões de empresas que deverão se instalar no seu entorno, informa reportagem de Danielle
A LLX já tem cerca de 70 memorandos de entendimentos assinados com candidatas ao novo complexo industrial. Entre elas estão duas siderúrgicas (a chinesa Wisco e a ítalo-argentina Ternium) e duas cimenteiras (Camargo Corrêa e Votorantim). A montadora Renault-Nissan também está em conversas com a Secretaria do Desenvolvimento do Estado do Rio, que trabalha com a LLX na atração de investimentos para a região. Juntas, essas empresas vão formar o chamado Distrito Industrial de São João da Barra, área de 70km próxima ao porto.
Atualmente, duas mil pessoas trabalham no porto, que deve entrar em operação em 2012. Cerca de 60% delas já moravam no município. As demais vieram de diferentes estados do Brasil, atraídas pelas oportunidades de trabalho. Parte deve voltar para sua terra de origem, mas há quem pense em ficar na cidade. Afinal, o complexo industrial deverá criar 50 mil vagas, nos cálculos da LLX.
O baiano Anderson Rodrigues, que trabalha para a ARG, uma das empresas envolvidas nas obras, é um dos que quer trazer a família. Há um mês na cidade, ele ganha R$ 2 mil mensais pelos serviços de carpintaria. Em Paulo Afonso (BA), estava desempregado.
- Sou muito caseiro e aqui é tranquilo. Estou pensando em trazer minha mulher - diz.
Como os demais operários que vêm de fora, Rodrigues divide uma casa com outros funcionários alugada pela ARG. A maior procura por locação de imóveis já está inflando os preços. Há dois anos, quando as obras do Porto do Açu ainda estavam no início, uma casa de três quartos era alugada por R$ 700 mensais. Hoje, sai a R$ 1.500 por mês, segundo a imobiliária Pessanha Imóveis, a maior da cidade.
Especialista teme favelização
O novo contingente de mão de obra já começa a gerar pequenos negócios. O carioca Felipe Siqueira chegou a São João da Barra há um ano e meio. Comprou uma fatia de um supermercado local, abriu uma lavanderia especializada em lavar macacões e, há dois meses, inaugurou um restaurante que atende exclusivamente a trabalhadores da Camargo Corrêa, envolvida nas obras do porto:
- Vislumbrei a possibilidade de crescimento da cidade e resolvi apostar nessa onda.
Siqueira é um dos que está ajudando a organizar o comércio local. Há quatro meses, foi fundada a Câmara de Dirigentes Lojistas, da qual é vice-presidente. Já são 71 associados. Na semana que vem, eles vão se reunir com representantes da Ternium na tentativa de detalhar as necessidades da futura siderúrgica. Grandes bancos também estão chegando. Bradesco e Caixa Econômica Federal pretendem inaugurar agências na cidade.
A prefeitura, comandada por Carla Machado (PMDB), começa a se mexer. Desde 2009, oferece cursos gratuitos de mandarim, visando à chegada da Wisco. Também fechou parcerias com instituições para qualificação do mão de obra. Parte das iniciativas é custeada com a arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS), que saltou de R$ 919 mil em 2006, um ano antes do início das obras do porto, para R$ 9,047 milhões em 2010.
Mas é preciso muito mais para assegurar o desenvolvimento social, dizem especialistas. Por um lado, o complexo industrial do Açu poderá contribuir para reduzir a dependência em relação ao petróleo. Ano passado, os royalties e participações especiais (PE, cobrança que incide sobre grandes campos produtores) representaram 56% do orçamento. Por outro lado, o inchaço da cidade inevitavelmente sobrecarregará a infraestrutura local, afirmam.


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